Apenas faça a diferença

Vou contar uma pequena história. Quando tinha dezesseis anos fui trabalhar como voluntária em um acampamento cristão, passei um mês lavando louça, tirando papel de cesta de lixos e varrendo o refeitório. Passei dias servindo mesas, distribuindo sorrisos e convivendo com pessoas que estavam vivenciando uma experiência diferente pela primeira vez em suas vidas.
Eu não sabia quem eram elas e quais histórias traziam dentro de si, mas eu sabia de onde elas vinham. Eram crianças de 8 a 12 anos tiradas da favela e levadas para passar dias totalmente fora da sua realidade. Foram durantes esses dias que percebi o quanto eu era egoísta, foi nesse mês que decidi mudar.
Ver crianças assustadas ao saberem que do chuveiro saia água quente, observar que algumas delas escondiam pães embaixo da blusa porque estavam acostumados a não saber quando comeriam de novo e ouvir histórias como de uma menina de 6 anos que viu os pais serem assassinados me fez perceber que pessoas ao meu lado gritam por ajuda e são na maioria das vezes ignorados.
Hoje quando saia da comunidade cristã que faço parte me deparei com mais uma cena chocante. Na esquina de casa um menino que provavelmente nem tinha oito anos preparava uma carreira de cocaína em um já gasto cartão telefônico. Moro no centro de São Paulo e vejo cenas como essas todo dia e ao contrario de muita gente eu não consigo me acostumar, me acomodar e achar que faz parte do ambiente. Quando vi que as pessoas que passavam por aquele garoto sujo, sem sapatos, sentado no chão e usando drogas ignoravam cena tive vontade de gritar e esmurrar cada uma delas. O menino era uma criança que deveria tá em casa, limpo, alimentado e sendo amado.
Sim, eu chorei muito por aquele garoto e por vários outros que já encontrei pela rua. Sim, eu sei que sozinha não posso mudar o mundo e ajudar todo mundo, mas eu posso fazer alguma diferença sem grande esforço.
Posso doar meu tempo para dar um pouco de amor as crianças de rua, posso dividir o pão que sobra todo dia com o mendigo da esquina do meu prédio, posso contribuir financeiramente para ajudar famílias que estão em situação de risco.
Quem me conhece sabe o quanto estou empolgada e até sendo chata de tanto falar da AEUM, mas vou continuar sendo chata e vou continuar sendo muito empolgada por saber que encontrei uma forma de exercer a generosidade e isso não vai mudar porque há alguns anos quando sai daquele acampamento eu decidi que seria sensível a necessidade do próximo, optei por dividir o que me sobrava e não me acomodar com o que me incomoda.
Você deve tá se perguntando o que eu fiz para ajudar o garoto. Eu entrei em casa, orei pedindo proteção divina, abri meu armário coloquei todos os biscoitos que tinha nele numa sacola junto com uma havaianas (que com certeza é enorme para ele) e voltei lá . Ele estava sentado no mesmo lugar e eu jamais vou esquecer o olhar de gratidão daquela criança quando pegou a sacola da minha mão. Voltei para casa triste pela realidade dele, mas feliz porque sei que de alguma forma fiz diferença naquela pequena vida.

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