Enquanto isso em Paris

Então, sentou e escreveu. Falou sobre a vida, as novidades, os móveis recém-comprados e a parede colorida da sala. Dissertou sobre Tolstoi, filosofou sobre Dostoevsky, desafiou a leitura de Herman.

Devaneou sobre as férias de verão em Ibiza, a temporada de inverno em Paris e o livro que escreveu enquanto passou por Londres. Escolheu alguns postais alegres que passavam a mensagem mentirosa de que tudo estava bem.

Sentada em um pequeno e escondido bistrô em Paris, bebericou seu café forte enquanto pensava em como tudo tinha mudado em tão pouco tempo. Ainda sentia-se cambaleando em uma queda sem fim, às vezes sonhava ser Alice caindo no buraco e saindo em uma terra de maravilhas.

De volta a realidade voltou a escrever, continuou narrando sobre os longos passeios pelo Louvre, os pic nics improvisados com queijo e vinho abaixo da Torre Eiffel. Assuntos aleatórios e mentirosos eram o que não faltava para ela, poderia preencher várias outras folhas de seu papel creme cuidadosamente escolhido com histórias, passeios e impressões, mas nada, absolutamente nada anularia a sensação de uma grande parte dela havia sido arrancada.

Do lado de fora do bistrô, folhas secas eram sopradas pelo vento do outono e secretamente desejava que bons ventos chegassem até ela levando embora todo e qualquer sentimento de saudade.

Finalizou o texto com um rápido adeus. Lacrou o envelope, escreveu o endereço do destinatário e colou um velho selo. Escondeu a carta no fundo da sua bolsa e saiu em direção ao vento que bagunçava seus cabelos ruivos e dizia em seus ouvidos: somos os fantasmas eternos do que uma vez existiu.

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